quinta-feira, 4 de agosto de 2011

LEONILSON

José Leonilson Bezerra Dias, um cearense nascido em Fortaleza em 1º de marco de 1957 ficou conhecido apenas como Leonilson, sem sobrenomes, como se estes o aprisionassem a algum lugar, e ele não era mesmo daqui. Leonilson deixou essa existência terrestre em 28 de maio de 1993 vítima da AIDS.
Meu primeiro contato com a obra de Leonilson se deu pouco depois da sua morte, quando eu tinha 15 anos e apesar de não compreender muito bem o significado daqueles desenhos eu sentia gostava deles e que eles me diziam algo. Passou-se o tempo que serviu para ratificar aquele sentimento de criança diante do novo.
Lembro-me da primeira vez que assisti ao documentário da cineasta Karen Harley, Com o oceano inteiro pra nadar. A emoção tomou conta de mim, senti-me mais próximo do artista dividindo dúvidas, anseios.
Leonilson era uma alma livre, que produziu uma poesia visual intensa, carregada de sentimentos demasiadamente humanos, universais, capaz de emocionar as pessoas em qualquer lugar do mundo. Suas pinturas, desenhos, bordados, poesias, esculturas, instalações expressam os dramas do homem contemporâneo.
A descoberta do vírus influenciou e muito a sua obra que mostra uma certa urgência, uma tristeza, uma beleza triste de quem se despede da própria vida sem saber nada do porvir.
Sua última obra, uma instalação na Capela Morumbi, mostra muito bem isso, uma espécie de desmaterialização de sublimação da vida e até de ressurreição.
A genialidade da sua obra está em não ter pudores de ser autobiográfica, ele se expõe em chagas com a beleza de um mártir que mesmo morrendo mantem-se sereno e belo.
Vivas a Leonilson.

Sobre o peso dos meus amores
Eu vejo a distância
Eu vejo os atalhos
Eu vejo os perigos
Eu vejo os outros gritando
Eu vejo um
Eu vejo o outro
Não sei qual amo mais
Sob o peso dos meus amores

Leonilson
Sobre o Peso dos Meus Amores, 1990

LINK DO VÍDEO: http://www.itaucultural.org.br/leonilson/index.cfm/f/palavra/poesia














































































































































2 comentários:

  1. Fiquei instigado pelo trabalho de Leonilson. Notei uma cor de solidão nesses trabalhos...

    Ver as cadeiras com as camisas[instalação na Capela Morumbi] passa para mim uma ideia de processo [de transição ou, não]: a espera por alguém... por algo; a chegada... a preparação para uma partida...

    Para mim, Arte não tem que significar diretamente algo. Mas, sim, tem o poder de inquietar. Permitir uma sensação. Buscar os sentimentos e fazê-los aflorar - sentimentos que escondemos e, diante de uma obra de arte, não temos como conter.

    Muito obrigado por nos apresentar tão bem esse nosso artista.

    "Vivas a Leonilson!"


    Jéferson Bispo,

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  2. Gostei bastante do artista autobiográfico. Não há expressividade maior do que expor a sua própria alma. Mostrar o seu EU exige do artista o auto-conhecimento proveniente de sua reflexão sobre a própria vida. O Leonilson traz para nós o sentimento como se sangrasse a própria carne para alimentar sua arte. Percebi claramente em sua linguagem plural a comunicação entre o artista e o publico.
    VIVAS a Leonilson mesmo.

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